Viajando com Arte

Índia, inspiração para toda a vida

A Índia sempre foi um dos nossos roteiros mais queridos! Por isto estamos planejando voltar para conhecer o sul em 2024. 

Só que conhecer a Índia não é uma viagem qualquer, tem uma conotação de descoberta, de se despir de preconceitos e mergulhar em uma cultura diferente de todas outras. Uma terra de contrastes que te chama na hora certa.

Acho que não foi por acaso que estávamos lá neste momento , em que o mundo todo se volta para olhar para dentro , para resignificar a maneira de se relacionar com os outros e com a natureza.

Para os hindus , o mundo foi criado por Brahma, uma sociedade de contraste e de riqueza espiritual.

Vishnu é o responsável pela manutenção do universo e suas reencarnações ou avatares são as bases da sociedade. Começa com a natureza , um peixe que representa o elemento primordial, a água. Logo vem a tartaruga que sai da água para a terra e vai evoluindo até o ser humano. A última encarnação de Vishnu foi Buda, um Deus para o hinduísmo.

Shiva é o Deus da destruição, aquele que acaba um ciclo para iniciar um novo. O fim de tudo é o moshka, Nirvana ou iluminação, sair da roda da reencarnação.

A ideia do tempo circular é básica para entender a sociedade indiana . Junto com o conceito de pureza formam a essência que engendra a Índia.

Mas pureza é muito diferente de limpeza, é algo interior, um indiano pode não ter latrina em casa, mas ele não vai deixar de tomar suas ervas de purificação.

Uma sociedade de contrastes, onde a mais alta tecnologia convive com a mais profunda espiritualidade.

Com mais de 3 milhões de deuses se consideram monoteísta, mas Brahma não consegue atender sozinho a todos , então terceiriza.

Começamos nossa jornada em Agra, com seu monumento ao amor por excelência. O Taj Mahal tem uma grandeza interior, personifica a pureza do sentimento. Construído como mausoléu no período da dinastia Mugal, é um sinônimo de equilíbrio e simetria.

No forte , do outro lado do rio , Sha Jahan ficou encarcerado nos últimos anos da sua vida, de frente para o mausoléu de sua amada Mumtaz Mahal.

Entramos no Rajastão, o território dos Marajás , figuras lendárias de uma Índia onde as castas davam o tom na sociedade. Não que hoje sejam ignoradas, apesar de proibições o sistema de castas ainda causa muito preconceito.

Jaipur é a capital do Rajastão, sua pérola rosa. Uma cidade grande é caótica , mas acolhedora e simpática. Como tudo na Índia , consegue ter o seu caráter e o oposto, ao mesmo tempo.

Subir ao Amber Forte em elefante é uma diversão. O “ataque” do vendedores, incansável!

A arquitetura Mugal e a grandiosidade são impactantes. Mas acima de tudo as cores, usadas em profusão , numa mistura única e harmônica.

Os Marajás já não tem lugar numa sociedade que evolui, hoje seus antigos palácios viraram hotéis e como bons homens de negócios disto tiram seu sustento, nada simples por sinal.


O Rambagh Palace é um belo exemplo desta decoração faustosa. No centro da cidade, rodeado por jardins luxuriantes onde desfilam pavões, lembrando que estamos quase como intrusos naquele cenário de mil e uma noites.

Na noite que antecede ao Holi existem vários rituais que se deve seguir, afinal como tudo por aqui , é uma festa religiosa. Acendemos a fogueira para queimar a Holica , todas vestidas em sari, foi muito divertido e glamouroso.

Pink Rickshaw CO é um projeto de passeios em tuktuk em Jaipur que dá oportunidade para moças trabalharem e se desenvolverem através do turismo! O preconceito de genero ainda é muito forte numa sociedade machista onde as mulheres fazem muitas vezes o trabalho mais pesado e ainda enfrentam a dureza de ter que dar conta sozinhas do trabalho doméstico.

Udaipur e a cidade mais romântica da do Rajastão , cercada por lagos pode ser considerada pequena com seus menos de 1 milhão de habitantes.

O Maharana é orgulhoso de nunca ter se dobrado aos invasores muçulmanos e nem aos ingleses! Seu antigos palácios também foram transformados em hotéis, mas ele vive ali numa ala reservada e circula normalmente como qualquer empresário no ocidente. Encontramos a Maharani duas vezes, em sua loja na entrada do palácio.

O palácio de verão é o Hotel Taj Udaipur, parece que surgiu das águas, e “boia” com diferentes reflexos em meio ao lago Pichola. A experiência é quase surreal, jardins internos, restaurantes nas varandas e uma decoração delicada mas ao mesmo tempo opulenta, na Índia isto nos surpreende a cada esquina.

A religiosidade está sempre presente e rege quase todas as atitudes, mas ela não é dogmática e nem imperativa. É muito mais um crença interior que pode ou não ser vivenciada em coletividade.

Os templos são uma festa ao sentidos, muitas flores, cores e música! Os rituais acabam sempre em dança. Nossa experiência foi linda, a conexão que já vinha forte no grupo, se estreitou e floresceu.

Jodhpur é a cidade azul, o Forte Mehrangarh, domina a paisagem.
Coração da indústria da tecelagem , nos enlouqueceu com suas padronagens e profusão de cores. Vamos falar mais sobre os tecidos e o artesanato no próximo post!

O aroma faz parte da experiência, não há local que não esteja perfumado e os cheiros doces são sempre os preferidos. Nos jardins abundam jasmins que nos deixam embevecidos pela doçura.

Falando em doçura, em todas minhas andanças pelo mundo, difícil encontrar povo mais receptivo e querido. Sempre nos recebem com um sorriso, buscam proximidade.

Fora o encanto das selfies! Somos tão estranhas para eles quanto são encantadores para nós!

Sem falar em nosso anjo da guarda indiano. O guia Kumar para quem nada é impossível e quase todos os desejos factíveis.

Délhi e o epicentro de um país que busca evoluir e sair das piores taxas de saneamento do mundo. Se pode ver a vida acontecendo em cada esquina, com um deficit de 300 milhões de toaletes pelo país.

Na cidade , com mais de 20 milhões de almas, duas facetas convivem em harmonia .

Nova Délhi dos belos jardins e alamedas verdejantes, é uma herança dos ingleses.

Old Délhi é mais caótica do que qualquer cidade indiana, com fios emaranhados e uma enorme quantidade de lixo pelo chão, uma referência que não combina com o respeito do indianos pela natureza.

Os comerciantes se confundem em ruas estreitas onde competem rickshaws , bicicletas e pedestres. O trânsito desafia o conceito de que dois objetos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço.

Mas o mercado é bem dividido por setores, e encontra-se de tudo, desde artigos luxuosos para noivas até produtos de limpeza.

A parte mais interessante é o mercado de especiarias, famoso desde o tempo que a Índia era parte importante da Rota da Seda e objeto de desejo dos europeus.

A comida para os indianos não existe sem uma miríade de temperos, convivem em total harmonia num mesmo prato o cominho, cardamomo, coentro , canela e muitos outros que nem sei nomear! Além do chili, importado da América que caiu perfeitamente no gosto local.

Em Délhi completamos o nosso rol de templos das muitas religiões que convivem pacificamente. Mas nem sempre foi assim e na Independência da Inglaterra em 1947 nem Ghandi consegui evitar a partição do país , criando o Paquistão e posteriormente Bangladesh para os muçulmanos.

Mas em Délhi a maior Mesquita da Ásia impressiona, obra do mesmo construtor do Taj Mahal.

No Templo Sikh nos encantamos com a estrutura da religião, antes de orações e cultos, os fiéis se preocupam em dar alimento , saúde e estudos para a comunidade. No templo um grande refeitório serve três refeições por dia , sem distinção de credo dos comensais! Lindo de ver.

Nosso último encontro com a multiplicidade religiosa indiana foi num legítimo templo hindu, e não por acaso o mais novo da cidade, com menos de 20 anos. Akshardham o maior templo hindu do mundo. Planejado pelo sadu Shastri Narayanswarupdas, foi construído com a ajuda de 3.000 voluntários e 7.000 artesãos.

No norte da Índia os conquistadores muçulmanos destruíram muito das referências hindus mais antigas que se mantém mais presentes no sul do país.

O colosso de arenito e mármore branco é decorado com milhares de figuras em relevos perfeitos.
Os elefantes em diversas posições que circundam todo o templo contam lendas de outros tempos.

Foram dias de conexão e aprendizado neste lugar poderoso com uma história longa de grandiosas obras-primas de engenharia dos Marajás, deste povo tão dócil que nos ensinou tanto com sua generosidade pintada em cores , lindos cenários e belos e simpáticos olhares
Os Deuses nos deram novos amigos e muita compreensão de nossas limitações e sentimentos.
Namastê 🙏Temos um podcast sobre a India no America Podcast, para ouvir e saber mais – Podcast India