Viajando com Arte

Rússia , um panorama cultural e turístico

Neste prenúncio de Copa do Mundo várias pessoas tem nos pedido dicas da Rússia, país que já constou em nossos roteiros por diversas vezes. Difícil escolher , na verdade , difícil excluir alguma coisa! Vou tentar fazer um resumo de algumas das melhores atrações pelo país, para uma primeira visita de reconhecimento! 

Palácio de Tsarskoe Selo

A cultura russa é antiga mas acima de tudo tem uma riqueza e violência que não encontra paralelo. Nada por aqui é mediano , tudo é intenso e forte, a literatura fala de sentimentos atávicos como nenhuma outra, a arte pictórica inova e enfrenta sem concessões e a história é uma sucessão de tragédias seguindo o fio condutor de uma povo que tem na resiliência sua marca.

A viagem pode começar em São Petersburgo, cidade que faz jus ao título de “Rússia com Arte”. Uma cidade repleta de história e simbolismo, mas que ainda conserva um ar meio decadente , principalmente se comparada a Moscou, mas que está caminhando rapidamente em busca de restaurar a antiga grandeza.

Museu Hermitage

No século XVIII, sob a dinastia dos Romanov, Pedro, o Grande vai construir uma nova capital e abrir uma janela para o Ocidente. Este Czar queria tirar a Rússia de seu atraso milenar e busca na Europa a inspiração para as reformas. São Petersburgo surge às margens do Mar Báltico como uma legítima capital européia, cercada de canais o que lhe valeram o título de “Veneza do Norte”. Ela não é uma cópia de outra cidade europeia , mas um resumo do que há de melhor em todas.

Rio Neva em San Petersburgo

O Hermitage, misto de palácio e museu, ainda tem janelas abertas com o sol batendo sobre telas de Reembrandt e Matisse, no entanto seu luxo imperial nos dá a sensação de que os palácios franceses são simples casas de campo. Ele foi construído por Catarina, a Grande, herdeira de Pedro, para tornar-se sua moradia nos meses mais frios,  por isto ser conhecido também como Palácio de Inverno. Guarda tesouros da arte ocidental , de Românticos a Impressionistas, de Neoclássicos a Barrocos.

Mas para os apreciadores de arte o Museu Russo é uma visita imperdível, quase sempre vazio em contraste com as hordas de turistas que lotam o Hermitage. Aqui se encontra o âmago da alma russa , contado em quadros e imagens que captam  com maestria técnica e sensibilidade uma riqueza  ainda muito desconhecida pelo Ocidente.

Hermitage

Nos arredores da cidade de St Petersburgo  os Palácios de Verão de Peterhoff e Tsarskoe Selo são insuperáveis no colorido do Barroco Russo e no bailado das fontes e jardins. Aqui o trabalho de restauração está completo e o esplendor  e riqueza são testemunhos de um passado de luxo e ostentação.

Peterhof

Peterhof foi o primeiro palácio construído por Pedro , o Grande às margens do Golfo da Finlândia.  Apesar de todos os esforços, nada impediu que as tropas nazistas se instalassem em Peterhof durante a II Grande Guerra , em 1941, onde permaneceram até Janeiro 1944. Foi ali que prepararam  o longo cerco de Leningrado. As forças ocupantes do exército alemão provocaram grandes destruições:  o Grande Palácio foi pilhado e incendiado , obras destruídas e o parque depredado. Felizmente, pouco depois do fim da guerra foi iniciado um minucioso programa de restauro que conseguiu restituir ao conjunto o seu aspecto primitivo.

Monplaisir primeira residência de Pedro em Peterhof

Peterhof é uma verdadeira joia da arte e da arquitetura russas, que vai muito para além do Grande Palácio. Na verdade, o conjunto é formado por mais dezenove outros palacetes, vilas e mais de 120 fontes espalhados pelo parque de mil hectares.

Fontes de Peterhof

Tsarskoye Selo é o auge do estilo Rococó Russo, uma escultura que parece um bolo de açúcar em detalhes e cores. Foram usados mais de 100 kg de ouro para dourar a sofisticada fachada e suas numerosas estátuas.

 Tsarskoye Selo

Construído pela Imperatriz Catarina , a Grande e por sua sucessora,  como palácio de verão da Dinastia Romanov. Quando as forças militares germânicas recuaram depois do Cerco de Leningrado, destruíram intencionalmente a residência, deixando, apenas, a carcaça do palácio para trás. Antes da Segunda Guerra Mundial, os arquivistas russos tinham removido plantas e desenhos do palácio , o que se mostrou fundamental na reconstrução do pós guerra.

O país mais uma vez tenta se abrir para o Ocidente e apagar o passado, um paradoxo que se perpetua na sua história e que fica claramente representado no seu brasão imperial que adota a Águia Bicéfala

Em torno do século X um monge Bizantino, Cirilo, fez uma peregrinação  para converter este povo, eslavo e pagão, ao cristianismo e por esta razão hoje o alfabeto russo chama-se cirílico e multiplicam-se igrejas cristãs ortodoxas cuja característica mais marcante são as cúpulas em formato de bulbo de cebola.

Dos séculos XI e XII, datam as cidades do chamado Anel de Ouro, um circuito medieval que circunda a capital, Moscou, e que nos faz viajar no tempo e apreciar um panorama que mescla a natureza exuberante e construções multicoloridas. Suzdal encanta com suas casas de madeira e seu Kremlin, fortaleza cujas cúpulas azuis com estrelas douradas representam a Virgem, adorada no país.

Vladimir foi a mais antiga capital do Principado de Moscou e guarda vestígios deste florescimento. Yaroslavl e Kostroma são cidades maiores onde se pode vislumbrar mercados do século XIX em pleno funcionamento, além de uma atmosfera retrô com muitas características do período soviético.

Mas é em Sergiev Possad que está o mosteiro mais importante para a fé ortodoxa russa e o principal centro de peregrinação do país, onde a arquitetura e a fé dão um espetáculo de grandeza.

Depois de um período de invasões dos mongóis no século XIII, foi  Ivan IV, mais conhecido por Ivan, o Terrível, que expulsou os invasores e reunificou a Rússia a partir de Moscou. Um dos maiores emblemas russos, a Catedral de São Basílio em Moscou, foi construída por Ivan em comemoração a conquista de Kazan, uma possessão mongol. Ela situa-se na Praça Vermelha, cujo nome não faz referência ao período comunista , mas sim a uma tradição muito mais antiga de denominar “vermelho” o mais belo , importante e honroso local.

GUM

Moscou guarda características orientais muito marcantes, além da monumentalidade devida ao período soviético. O Kremlin, centro do poder político e religioso, abriga o Museu da Armeria onde podemos ver as jóias da coroa russa, os ovos Fabergé e vestimentas imperiais, uma riqueza que contrasta com a pobreza e simplicidade do povo. Mas a Rússia é um país de contrastes!

Kremlin

O Museu da II Guerra Mundial situa-se num parque que, por si só, já vale a visita. Mas é um passeio muito ilustrativo para percebermos os sacrifícios e a importância deste povo para a vitória dos Aliados na II Guerra Mundial, chamada por eles de “Guerra Pátria”.Para os turistas desavisados uma dica, não deixem de visitar a Galeria Tretyakov, um museu de arte russa que não pode faltar numa visita a Moscou e que normalmente não consta nos roteiros tradicionais. A arte russa é um capítulo à parte e uma lástima ser tão desconhecida no Ocidente!