Viajando com Arte

Experiências Viajando com Arte na Amazônia

A maioria dos estrangeiros curiosos conhece o Brasil por pelo menos três coisas: carnaval, futebol e amazônia. De futebol e carnaval todo cidadão brasileiro é um doutor (gostando ou não, já está impregnado no seu DNA).

Por outro lado, sobre floresta amazônica a realidade é outra.  Poucos que conheço têm intimidade com essa parte do nosso território e poderiam relatar algo mais do que informações geográficas que o curioso teria como buscar em qualquer livro escolar.

Em nosso ávido apetite por arte e culturas distintas, migramos para os mais remotos lugares do mundo em busca do diferente. Entretanto, esquecemos muitas vezes que o diferente pode estar muito mais perto do que imaginamos e que em nosso próprio país há culturas e povos dignos de uma apreciação mais demorada.

Muitas vezes esquecemos, ou queremos esquecer, que vivemos em um país indígena com uma cultura riquíssima e que é isso que nos diferencia do restante do mundo.

Vejo muitas vezes certo constrangimento, e até indignação, quando um brasileiro é questionado no exterior se o Brasil é repleto de florestas. Ignorâncias a parte, como aquele questionamento de alguns estrangeiros sobre jacarés e macacos circulando pelas ruas das grandes cidades, será que não está na hora de nos orgulharmos de nossas matas e usarmos isso para orientar o curioso e explicar-lhe que temos sim matas maravilhosas e que, apesar de termos uma das maiores cidades do mundo, ainda assim somos um país rural e que se orgulha de sua natureza?

Será que ao sermos questionados não ficamos mais indignados pela nossa ignorância em falar de nosso próprio país?

Com o intuito de aprimorar um pouco mais a minha brasilidade e incrementar a minha cultura na arte do viver, rumei, há alguns meses, para o coração da Amazônia. Havia estado lá apenas uma vez e a vontade de retornar sempre esteve presente. Desde a primeira visita o por do sol às margens do rio negro não me saía da mente.

As cores da Amazônia são vibrantes e a natureza é algo indescritível. Ao cair do sol a mata se incendeia em laranjas e vermelhos que se confundem com as árvores e ofuscam o seu verde. Como se todo o planeta fosse aquecido. Fico imaginando que quadro Van Gogh teria pintado se tivesse vivido por aquelas bandas. Quem “pintou a Amazônia” em um final de tarde deve ter tido um surto psicodélico e ter jogado toda a sua paleta de cores quentes de uma só vez sobre a tela!

Este mesmo pintor enlouquecido, não contente com apenas uma Amazônia, resolveu colocar ali espelhos d´água que refletem toda essa beleza e transformam a mata em duas. Uma overdose de cores e sombras nesse quadro pintado por uma artista acima de qualquer crítica.

Com seu auge nos tempos da borracha, Manaus ainda preserva algumas de suas construções daquela época. Não deixe de visitar o Teatro Amazonas e o Palácio Rio Negro, dois exemplares da arquitetura de uma época de muita abundância. Uma das curiosidades que mais me chamou a atenção foi o calçamento ao redor do Teatro. Todo feito de borracha, para que o barulho das carruagens e carroças da época não atrapalhassem os espetáculos, ainda está lá preservado em uma boa parte do entorno do mesmo.

A visita ao centro histórico da cidade é feita em um dia tranquilamente. O interesse pela região com certeza tem que ser a natureza ao seu redor. Com ela você poderá gastar quantos dias achar necessário.

As opções de passeios pela floresta são muitas. Desde um simples passeio de barco para ver o encontro das águas do Rio Negro com o Solimões até um mergulho com botos cor de rosa, você poderá visitar uma tribo indígena, ver cachoeiras, sobrevoar a mata em um hidroavião e muito mais. 

Entre todos os programas que você poderá fazer na região amazônica, um deles é primordial: A CONTEMPLAÇÃO. Sim, deixe o seu estresse aqui no asfalto e se embrenhe na mata com calma.

Contemple cada momento e cada som. Tente enxergar a população local com outros olhos e ouça suas histórias com interesse. A Amazônia é uma região para se visitar despido de pré-conceitos e de uma suposta superioridade. Ou você se deixa envolver, ou irá voltar da mesma forma que chegou lá.

Respire o ar úmido da mata e sinta o calor que vem de suas entranhas. Deixe que as águas dos rios reflitam o seu interior e use esses momentos para ver o planeta com outros olhos. Sem demagogia: tente entrar em sintonia com a natureza. O sentimento de pertencimento a um todo maior é inevitável.

Lá, templos gigantescos são desnecessários. Não tenha a doce ilusão de que, por não haver construções góticas, renascentistas, medievais, modernistas, etc., a Amazônia seja um lugar menos digno.   Para que construções feitas pelo homem se você está dentro de uma das maiores construções divinas?

O divino se revela a cada reflexo na água, a cada árvore gigantesca, a cada revoar de pássaros. O sagrado que está em cada momento é revelado àqueles que se deixam conduzir pela natureza. Se você quiser ser contagiado por tudo isto, fica a dica.