Que o litoral do Rio Grande do Sul não tem belas praias e nem um mar que cause inveja já é lugar comum na crônica por estes pagos. Mas como o chegar a Santa Catarina e outros belos litorais é algo que só conseguimos num feriado prolongado, o veraneio no litoral norte foi sempre a minha realidade familiar desde tempos imemoriais.
E vou confessar, eu sempre adorei!
Para mim o verão neste recanto tranqüilo de praia é um período de fazer uma “limpeza” mental, sem nenhuma obrigação nem compromisso social , é aqui que sempre me preparei para enfrentar o ano, desobstruindo a mente de tudo que foi obsoleto para absorver o que de novo virá. Agora tendo um ofício relacionado a educação , ficou ainda mais fácil manter esta rotina de começar o ano em março após um período de reclusão.
Falar sobre Atlântida sempre me traz um “quê” de nostalgia. Por mais que hoje seja a praia da moda, ou melhor dos condomínios e da vida noturna do litoral gaúcho , não consigo encará-la com este glamour social. Apesar de aproveitar certas facilidades antes impensadas por aqui como charmosos restaurantes na Avenida Central, são uma alegria para quem antes para jantar fora tinha que colocar a mesa na varanda!
Mas voltando a nostalgia de Atlântida de “minha época” !
As ruas onde os sapos sempre cantaram e onde as crianças podiam se libertar das amarras paternas e andar de bicicleta até o “centro”, que não passava (e ainda não passa muito) de uma praça com um mini comércio e uma fruteira que , pasmem , sempre funcionou 24horas. Era uma liberdade experimentada a conta gotas, a cada ano se podia ficar até mais tarde no centrinho, namorar no mini-golfe, e para os mais velhos frequentar o Bar da Adélia.
As casas eram na sua maioria chalés de madeira onde a gente entrava para almoçar com os vizinhos, nem que fosse pela segunda ou terceira vez no dia. Alguns ainda resistem ao tempo, e eu saudosista me encanto ao ver novos proprietários mantendo a memória e reformando sem descaracterizar e perder o charme, claro que agora atrás das grades!
Um prazer que parece não envelhecer é tirar uma sesta depois do almoço, na rede da varanda, quer coisa mais praiana do que isto? Ouvindo o grito dos meninos vendendo puxa-puxa ou a corneta do picoleteiro.
A beira da praia nunca foi o ponto alto, mas molhar os pés no mar fazia parte do ritual diário dos veranistas, Vento “nordestão” nenhum nos assustava. E se não dava para colocar o guarda-sol e a cadeirinha, uma caminhada ao entardecer não faltava. Ultimamente os quero-quero e pequenas garças tem dado o “ar da graça” nas areias perto da plataforma , emprestando sua elegância aos finais de tarde. Finais de tarde com chimarrão e quem sabe uma roda de violão!
Mas tenho certeza que em nenhum outro ponto do litoral brasileiro causa tanto encantamento um dia de mar transparente, com sol e sem vento, se o mar estiver calmo então, não se fala em outra coisa. O que em outras praias é o lugar comum no verão , todas as variáveis conspirando a favor num único dia já justifica os dois meses de estadia! Pena se isto acontece justamente no dia que temos que dar uma chegadinha em Porto Alegre, e é claro, nunca no fim-de-semana.
O evento mais esperado do verão era o Carnaval da SABA, onde todo mundo se encontrava, à tarde com as crianças fantasiadas e à noite para “pular” em círculos ou encima das mesas as mesmas músicas todos os anos! Mas nada podia ser melhor, e vinha gente de todas as praias, até de Torres. O Planeta Atlântida é bem mais atual, tem “só” uns vinte anos!
Como o tempo não é nunca muito garantido, o céu de Atlântida compensa oferecendo espetáculos variados de cores e formas
O dia de ir embora era quase um luto, porque mesmo com promessas de feriados compartilhados, sabíamos que Atlântida só ia renascer no próximo verão.
Nosso castelos de areia construídos com tanto carinho ficariam no imaginário e nas lembranças compartilhadas. Mas afinal , o que é a vida senão muitos memórias de água, sal e areia!