“Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal “
Com os versos de Fernando Pessoa cheguei aos Açores, este pedacinho de terra perdido no Atlântico entre a Europa e a América.
Um arquipélago de nove ilhas , cuja décima seria a nossa açoriana Florianópolis. Um local bucólico que nos remete a um passado onde a única esperança que movia Portugal era o navio que levaria a terras mais promissoras e distantes. Destes emigrantes viemos nós , gaúchos de Porto Alegre e tantas outras cidades fundadas por nativos de São Miguel, São Jorge, Faial e Ilha Terceira, que buscavam uma pátria que os merecesse.
Nas minhas veias não corre muito sangue português e minha escolha por visitar os Açores foi mais uma busca do luxo do inexplorado e da amplidão das paisagens. Mas alguma coisa me arrebatou e me tomou de assalto. Fui abduzida a um tempo de coretos nas praças, serenatas nas varandas e tapetes de flores e serragem nas calçadas.
Das festas religiosas provém os tapetes coloridos de flores e serragem, feitos com capricho e devoção! Um povo que põe nas tradições a expressão de seu caráter. Quase impossível passar por aqui sem presenciar alguma procissão.
Difícil traduzir em palavras o sentimento que me acometeu, como se fossem lembranças de lugares onde eu nunca estive.
Em São Miguel chegamos ao entardecer, num voo rápido de Lisboa, pouco menos de três horas separa o arquipélago da terra mãe.
Na maior ilha está a capital, Ponta Delgada , uma cidade considerada grande e cosmopolita pelos pacatos moradores locais! Não tem mais de 40 mil habitantes, que ainda cumprimentam-se nas ruas e tem como grande preocupação os pequenos mosaicos soltos nas calçadas de pedras portuguesas.
São Miguel é uma mistura de Gramado e Florianópolis, com um relevo montanhoso e estradinhas serpenteadas de hortênsias e agapantos, sempre com um vislumbre de mar no horizonte.
Diversidade de culturas agrícolas como o inhame, a cana de açúcar e a única plantação de chá da Europa convivem com o turismo que vem trazendo novos ares.
Mas a maior riqueza é a variedade de paisagens naturais! Num raio de menos de cinquenta quilômetros convivem pacificamente águas termais, praias vulcânicas, lagoas coloridas em verde e azul e as incríveis fajãs, terras cultiváveis à beira mar, provenientes de lava vulcânica .
Pelo interior vários sítios de águas termais, uma experiência inusitada os banhos nesta água ferruginosa em Furnas.
A paisagem mais incrível esta no Ilhéu de Vila Franca do Campo. Uma ilhota com um mar interior bem em frente ao litoral de Vila Franca.
O Faial é ainda mais hospitaleiro e preservado . Para chegar até lá toma-se um voo de 1h desde Ponta Delgada. Em Horta do Faial está a maior Marina do arquipélago que acolhe navegantes que se aventuram a cruzar o oceano e tem aqui um ponto de descanso.
O bar do Peter´s Cafe é icônico por aqui. Guarda memorias de viajantes , histórias de marinheiros errantes que deixam marcas numa das marinas mais distantes do continente.
De bicicleta ou de carro, vale dar uma volta na ilha do Faial para ver suas famosas cercas de pedra a a mais nova praia de lava vulcânica, formada na erupção do Capelinhos em 1957.
Do Faial se avista ao longe a Ilha do Pico, maior montanha do arquipélago, famosa por sua trilha super desafiadora.
Cada canto por aqui tem uma beleza ímpar e tudo envolto no luxo maior de ser quase exclusivo!
Portugal nasceu a sombra da Igreja e não há nos Açores uma minúscula vila que não tenha a sua capela de pedra cinza e paredes caiadas em branco, parecem todas com o mesmo projeto , mas cada uma é igualmente encantadora ao seu jeitinho!
Para comer, não deixe de provar as lapas, mariscos deliciosos que são a especialidade local.
Não tivemos tempo de visitar a Ilha Terceira, conhecida como a mais festeira e nem São Jorge.
Bom, assim tenho um bom motivo para voltar. E será em breve.