Viajando com Arte

Artesanato da Índia – a tecelagem mais rica do mundo

Na Índia não tem como não se encantar com a forma como os indianos se vestem , tem algo do exótico, diferente. Mas para além disto tem uma alegria natural, um bom gosto da mistura de cores e padronagens , que não se vê em nenhum outro lugar. E não é privilegio de classes altas, a moça mais simples , está com seu sari colorido sempre cheia de pulseiras e brincos, não importa o quão simples seja sua atividade.

A tecelagem é uma das tradições mais antigas da Índia.

A roca de fiar foi o símbolo que Gandhi usou na sua luta de Independência da Índia do Império Britânico.

Em um mundo onde  predomina o fast fashion , mostrando que a quantidade muitas vezes pode ganhar da qualidade , a Índia vai totalmente na contramão dessa tendência, um país que valoriza o trabalho manual, matérias-primas tradicionais e habilidades artísticas .

Por isso, hoje viemos falar sobre o tecido indiano e sobre suas cores, texturas, histórias e culturas. E seguindo o lema , na Índia como as indianas.

Foi em Bangladesh, que fazia parte da Índia até 1947, onde surgiram os primeiros tecidos de algodão no mundo.

Com a descoberta da América o ouro e a prata passaram a alimentar a compra de tecidos na Índia e de especiarias como a canela, o cravo , cardamomo e a nós moscada no sudeste da Ásia. Calcula-se que metade da riqueza trazida da América tenha tido o destino final na Ásia.
Até o advento da Revolução Industrial no século XVIII os têxteis indianos foram os manufaturados mais exportados do mundo. A partir do século XIX este mercado passou para a China.
Mas os ingleses e holandeses também usaram os tecidos indianos para comprar escravos na África e vender na América.

O tecido indiano de algodão azul, tingido de índigo , passou a ser conhecido como “tecido da dor”. Hoje é um dos tons mais usados e identificados com o país.

Os europeus que durante séculos só vestiram linho e lã, com exceção dos muito ricos que vestiam seda, descobriram o algodão.

Os indianos faziam carimbos com os quais tingiam seu algodão com tinturas vegetais brilhantes e resistentes, criando padronagens e estamparias únicas.

Os ingleses tentaram invocar a religião para impedir que as devotas ladys anglicanas não usassem o algodão dos infieis.

O calicó, tecido proveniente de Calcutá foi proibido na Inglaterra.

No início do século XIX a história virou de lado, as máquina à vapor  inglesas levaram à falência a indústria têxtil indiana: “ os ossos dos tecelões de algodão deixam brancas as planícies da Índia”.

Hoje o que vemos por lá é uma mistura de cores e padronagens lindos que dependendo da região se modificam. Além dos tecidos, outro quesito que chama atenção do mundo, são as cores. A Índia é considerada o berço da estamparia, onde surgiram técnicas de tingimento em tecidos desde a Antiguidade, tido como segredo e herança passado de pai para filho dentro das castas.

Segundo as tradições indianas, para fazer o trabalho de estamparia deve se utilizar somente de materiais vegetais, minerais ou animais para a produção de corantes, que em sua maior parte, são feitas de plantas como índigo, cúrcuma, curry e da frutinha da árvore do miróbalo e também podem ser extraídas de animais como o cocô de camelo para a obtenção da cor amarelada. A fixação das cores é por meio do uso dos mordentes, este feito de urina por ser rica em ureia.

Depois de obterem as cores, vem o processo de estamparia, que são feitos através da técnica hand block printing, onde os desenhos são impressos em blocos, como se fossem carimbos gigantes. Esses carimbos são feitos de madeira e os desenhos todos esculpidos à mão. Então, o tecido é levado para uma mesa, e os carimbos são prensados com os blocos molhados com tinta, tudo bem preciso, para não haver diferença entre um carimbo e outro.

Cada parte do desenho fica em um bloco, e geralmente são estampados com cores diferentes. Para encaixar um bloco no outro sem sair do formato do desenho é um trabalho muito complexo, que demanda muita atenção e habilidade. Depois que são estampados, os tecidos ainda podem ser tingidos de outra cor, nas áreas que não foram preenchidas. 

As padronagens indianas tiveram uma grande mutação desde seu inicio, sendo que a Índia traz em seu repertório motivos geométricos e caligráficos em regiões onde o islamismo esteve presente que substituiu os motivos sensuais hindus. Com a chegada dos europeus, as estampas passaram a ter composições de flores e animais ou cenas iconográficas ocidentais.

As estampas indianas são étnicas por apresentarem desenhos com estilo incomum e a Paisley, também chamada de Cashmere, possuí formas estilizadas e arredondadas que lembram um grão de feijão trabalhado com motivos florais durante os séculos XVII e XVIII.

Quase tão famoso quanto os tecidos, os bordados também são herança do grandioso trabalho indiano, onde contam com variadas técnicas de pontos feitos à mão para enfeitar com detalhes, o tecido. A costura foi desenvolvida ao longo de séculos e segue até os dias de hoje com um trabalho rico e supervalorizado.

O batik é outra técnica bastante usada pelos indianos, porém de origem africana,  conhecida também como  tie-dye, onde várias partes dos tecidos são amarradas, em tamanhos diferentes, e logo em seguida são tingidos, quando essas partes amarradas finalmente são soltas, o resultado são de diferentes formatos abstratos. Uma técnica milenar que consiste em aplicar cera quente ou parafina sobre um tecido isolando áreas que não serão tingidas  com um pincel especial chamado de tjanting, um tipo de funil de cobre ,  a qualidade depende diretamente da artesã, sendo que geralmente são mulheres que se encarregam dos desenhos enquanto os homens trabalham com o tecido.

Enlouquecemos com as estampas e os preços muito baixos, acabamos saindo de par de vasos!

Os saris são a roupa mais tradicional indiana, com seus 6 metros de pano enrolado , é um verdadeiro desafio colocar e mais ainda se mexer sem tropeçar. O impressionante é ver as indianas fazendo todo o tipo de trabalho usando estas roupas, desde varrer a rua até trabalhos no campo e obras civis.

Dizem os historiadores, que o sari remonta a civilização do Vale do Indo, que floresceu em 2800-1800 aC, na parte norte-ocidental da Índia. Na verdade, estudos mostram que o dhoti dos homens é um protótipo do sari e ambos os sexos usavam  essa vestimenta até o século 14. Acredita-se que o choli,  a blusa da mulher usada por baixo do sari, passou a existir a partir das várias potências coloniais europeias que ocuparam  grande parte do subcontinente indiano.

Mas para além do sari tem diversas outras possibilidades de usar os panos maravilhosos.

Chuni ou Dupatta é um véu que faz parte do vestuário das mulheres da India e do Paquistão. Não são usadas com o intuito de deixar a roupa mais bonita ou mostrar um novo estilo como muitas garotas fazem hoje em dia. Tem um porquê por trás disso.  O objetivo é proteger o pudor de uma mulher. 

A dupatta é tradicionalmente usada como um véu para cobrir a cabeça. Muitas mulheres cobrem a cabeça na presença de mais velhos, na presença dos sogros e em alguns vilarejos até na presença do marido em sinal de respeito.

Antigamente, ou ainda em algumas aldeias, as mulheres cobrem também o rosto ao sair nas ruas ou na presença do sogro e não tiram o véu do rosto nem pra conversar com ele. Elas conversam através da dupatta. No entanto, também pode ser usada em torno de todo o colo ou nos ombros. O material varia: Algodão, Georgette, seda, chiffon, etc dependendo do tecido da roupa, ocasião e status. As dupattas bordadas são vendidas nos mercados locais com uma diversidade enorme de bordados, gregas e aplicações.

Uma das características bem típicas são os espelhinhos aplicados. Eles dizem que a tradição remonta as vilas sem energia elétrica que com pouca a luminosidade tem as colchas com espelhos refletindo a  luz e assim facilita a mobilidade à noite. Se não é verdade a história é bem bonitinha!

Nas bolsas eles são uma marca registrada , quem não lembra , nos anos 70 eram uniforme da galera alternativa da época. 

Difícil traduzir esta arte que está impressa nas entranhas deste povo como um DNA.