Começar a falar de um lugar sempre tem um que de melancolia, dos momentos que lá passamos e dos carinhos que lá deixamos. O Alentejo é mestre neste quesito , nos toca o coração mais que aos outros sentidos mais superficiais. Tem um que de desamparo , de solidão características de uma região de grande extensão e pouca população. Amplitude que toca do Atlântico à fronteira com a Espanha, espaços de campos banhados de luz pontilhados por oliveiras e corticeiras. Onde a população se concentra em pequenos povoados caiados com janelas emolduradas de azul do céu ou amarelo dos campos.
Saindo de Lisboa e cruzando a Ponte 25 de Abril está o Alentejo, região entre a capital portuguesa e a fronteira espanhola, é uma área predominantemente rural, ocupada por extensos olivais e vinhedos. Évora fica na rodovia A6 de Portugal, à uma hora e meia de carro de Lisboa.
Grande parte dos excelentes presuntos do país e outros produtos de porco vem daqui, assim como a maioria das rolhas do mundo. Os famosos porcos de patas pretas da região, aliás, engordam com os frutos que caem dos sobreiros e azinheiras. Sem falar, é claro, de seus vinhos, de primeira linha. Suas atrações são numerosas, mas muito perto umas das outras.
Nas estradas os sobreros, de onde se tira a cortiça, montam um cenário de cartão postal combinando com trigais e paisagens campestres. Eu adoro vagar por estradas tranquilas e descobrir cidades que nem sonham ser atrações turísticas, é lá que, na maioria das vezes deixo um pedacinho do meu desejo de retornar.
Este foi o caso de Montemor-o-Novo onde escapamos da autoestrada para adentrarmos no coração de um Portugal rural , antigo e genuíno. Não sei muito sobre a cidade , foi uma descoberta casual e prefiro mantê-la assim, um encontro de olhares sem pretensões históricas.
A maior cidade da região é Évora, mas todo o Alentejo possui um grande número de cidadezinhas de arquitetura típica, com casinhas caiadas, fortalezas medievais, palácios, igrejas barrocas, resquícios da época romana e até sítios arqueológicos do Paleolítico.
Ao contrário das metrópoles , que exigem tempo para serem desbravadas, Évora é um bibelô que se encaixa perfeitamente em um passeio de um dia.
A cidade reúne, em espaço relativamente pequeno, uma incrível combinação de arquitetura romana, gótica e barroca – que fez de Évora Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
Capital do Alto Alentejo, Évora é dona uma história peculiar, com períodos como importante centro urbano romano e baluarte fortificado mouro. Ela foi centro da corte portuguesa na dinastia Avis (1385-1580), quando muitos de seus prédios mais interessantes foram edificados.
O centro da cidade é a Praça do Giraldo , mas acho que a atração mais fotografada é o Templo de Diana , resquício do passado romano da região.
Monsaraz é uma cidade amuralhada no topo de um monte, com uma bela vista para a barragem do Alqueva, cheia de casinhas brancas e que ainda mantém intactas as ruas construídas há muitos séculos. Uma cidade cheia de silêncios, ausências e histórias.
Eu tenho uma especial com a cidade , indiquei para um casal de amigos passarem e conhecerem a região . Pois foram e se apaixonaram, acabaram ficando por lá quase uma semana , estadia esta que acabou gerando um livro de poesias.
Copio aqui o poema do Celso Gutfreind, que traduz um pouco a alma do lugar :
Silêncio em Monsarás
Chegamos ao silêncio absoluto. O silêncio onde o sino aparece soberano de si e do que não é sino e também resplandecem os ruídos de dentro , melodias que trazem as palavras que tentam sair pelo intestino, dizendo o que foi paz e hoje são murmúrios. Chegamos ao silêncio que expõe nosso barulho.
Passear sobre a muralha da cidade é uma experiência “elevada”, uma das menores e mais pitorescas vilas do Alentejo, mas que foi o ponto alto da estadia de quase todos que passam por lá!