Se você já ouviu falar em Inhotim mas não conhece, não perca mais nem um minuto!
Yayoi Kusama
Eu já estive por lá em outras oportunidades e temia por sua conservação em função dos escândalos de corrupção que envolveram seu criador Bernardo Paz. Me surpreendi para o bem , tudo continua muito bem cuidado, os jardins gigantescos não denotam nenhuma economia na manutenção , novas obras estão sendo inauguradas e pavilhões construídos. A única notícia mais negativa é sobre o hotel que estava para ser inaugurado dentro da estrutura , parece que está parado!
Um dos pavilhões novos e impactantes é o da Cláudia Andujar. A construção de tijolos tem uma força telúrica que é complementada pela obra desta fotografa brasileira que viveu e fotografou os índios Yanomamis em diversos momentos de sua carreira. Um trabalho forte e verdadeiro , além de belo e revelador. Adorei.
A natureza continua sendo um show de formas e cores, um deleite para os olhos e um oásis de contemplação nestes tempos tão turbulentos
Outro espaço com novidades é a Galeria da Fonte, lá mais uma obra da japonesa Yayoi Kusama diverte e intriga com suas bolinhas coloridas.
Sabe aqueles lugares que te surpreendem em todos os aspectos, Inhotim é muito mais! É mais que um jardim botânico, mais que um museu de arte contemporânea, mais que um exemplo de arquitetura moderna e mais do que eu já vi em qualquer lugar do mundo em todos estes quesitos. Mas o principal é que está no Brasil, em Minas Gerais e poucos brasileiros conhecem!
Galeria True Rouge de Tunga
Se você não tem programa para o próximo feriado , pegue um avião para Belo Horizonte e viaje 60 km de carro até Brumadinho para desfrutar de tudo isto . Se você tem programa , desvie a rota que não vai se arrepender nenhum minuto. Se forem férias , melhor ainda pois ainda dá para conhecer Tiradentes , Ouro Preto e outras riquezas mineiras .
Edgard de Souza
O projeto paisagístico é baseado em Burle Marx e o trabalho sensorial nos evoca o jardim do Éden. São 100 hectares de cores e aromas escolhidos com um cuidado especial , criando uma atmosfera de deleite em cada curva do caminho. Cinco lagos ornamentais com a maior coleção de palmeiras da América são dispostas de forma harmônica , quase poética. Para quem cuida de um pequeno jardim e se emociona quando desabrocham as primeiras glicínias e jasmins perfumando o ar na primavera , entendem bem do que estou falando!
Os recantos por onde espalham-se os pavilhões que abrigam as obras de artistas brasileiros e estrangeiros são pensados para terem uma sintonia perfeita com as espécies naturais que lhes abraçam. Os aromas de eucaliptos e acácias estão até agora impregnados na minha memória. Nas 17 galerias as obras são expostas alternadamente, porém 21 artistas tem pavilhões próprios perenes. Dentre os mais conhecidos estão Tunga, Cildo Meireles , Helio Oiticica e a ex-esposa do mentor , Adriana Varejão. As exposições são sempre renovadas, e galerias são anualmente inauguradas. A intenção é promover o diálogo constante com o entorno de montanhas e mata!
Adriana Varejão
Hélio Oiticica
Galeria Miguel Rio Branco
Eu sei que muita gente deve estar pensando, “eu não gosto de arte contemporânea, não tenho o que fazer neste lugar!”
Ledo engano, você só não vai apreciar Inhotim se não gostar de natureza, nem harmonia e nem tão pouco apreciar o belo! E mesmo com muita expectativa não tem como não se surpreender com o que encontra por lá. Mas já está difícil visitar o museu inteiro num dia só. Algumas galerias ocupam espaços mais distantes da entrada e para isto existem uns carrinhos de golfe que fazem o transporte.
Coleção de Palmeiras
Hugo França foi para Trancoso no no começo dos anos 80 e conheceu o pequi vinagreiro – madeira que revolucionaria sua vida. As canoas eram feitas dessa árvore, uma herança indígena, mas a descoberta revolucioária do designer foi que as raízes centenárias sobrevivem às queimadas. Pelas mãos do profissional, elas se transformam em móveis escultóricos, capazes de resgatar a natureza bruta onde quer que sejam expostos. Inhotim conta as mais monumentais esculturas mobiliárias que o designer já produziu, reparem nos bancos espalhados por todo o jardim , um verdadeiro “desbunde”.
Tamboril
Tudo conspira a favor, até os restaurantes estão integrados no ambiente e formam um cenário perfeito para apreciar a deliciosa culinária mineira, aqui nada tradicional e bastante inovadora. São 10 opções entre lanchonetes e 2 excelentes restaurantes o Tamboril e o Oiticica.
Restaurante Tamboril
Aberto de quarta a domingo e aos feriados, Inhotim oferece visitas temáticas (arte ou natureza), com monitores, além de visitas educativas para grupos , que devem ser agendadas previamente.
O jornal The New York Times, em referência ao Inhotim, citou certa vez que “poucas instituições se dão ao luxo de devotar milhares de acres de jardins e montes e campos a nada além da arte, e instalar a arte ali para sempre”. Para nossa sorte e deleite!
“E quem está falando não é um rato de museu, não. Tenho pouca paciência com o gênero. 90 minutos, duas horas no máximo é o que agüento antes de virar abóbora. Até a cara de conteúdo eu costumo perder no meio do caminho. Em museus grandes e sobretudo em bienais acabo sofrendo uma overdose conceitual. Entro em coma artístico.Eu não entendo xongas de arte, mas pelo jeito que fui tocado por tudo o que vi, me arrisco a palpitar que a curadoria busca obras que causem impacto também no público leigo. Nada passa batido. Pelo menos algum dos seus sentidos vai entender por que aquilo foi posto lá para você contemplar (às vezes, interagir).”Ricardo Freire: “Inhotim , o melhor passeio que você ainda não fez”.