Viajando com Arte

Klimt e Viena

“A cada tempo sua arte, à arte sua liberdade”

Gustav Klimt (1862–1918) foi uma das figuras centrais da Secessão de Viena, um movimento artístico surgido no final do século XIX que buscava romper com o academicismo conservador dominante na Áustria.

🌟 Klimt e a Secessão de Viena

O contexto

No final do século XIX, a arte oficial em Viena era controlada pela Academia de Artes, instituição conservadora que favorecia estilos tradicionais. Jovens artistas, insatisfeitos com essa rigidez, organizaram-se para criar algo novo. Nos moldes dos Impressionistas em Paris.

Fundação da Secessão (1897)

Gustav Klimt se tornou cofundador e primeiro presidente da Secessão de Viena (Wiener Secession). Ao lado de artistas como Koloman Moser, Josef Hoffmann e Joseph Maria Olbrich, ele buscava:

  • liberdade artística;
  • valorização de influências internacionais;
  • integração entre arte, design e arquitetura;
  • promoção do Gesamtkunstwerk (a “obra de arte total”).

Principais características do movimento

A Secessão defendia uma estética moderna, marcada por:

  • linhas sinuosas e ornamentais (influência do Art Nouveau);
  • simbolismo e temas psicológicos ou eróticos;
  • uso expressivo do ouro, da cor e do padrão decorativo;
  • ruptura com narrativas históricas tradicionais.

Klimt personifica essa proposta, especialmente em sua Fase Dourada, com obras como O Beijo (1907-1908) e Retrato de Adele Bloch-Bauer I (1907).

O Edifício da Secessão

Projetado por Joseph Maria Olbrich, tornou-se o símbolo do movimento.

Na fachada, lê-se o lema:
“Der Zeit ihre Kunst, der Kunst ihre Freiheit”
“A cada tempo sua arte, à arte sua liberdade”
— frase que resume o espírito reformador do grupo.

Ruptura e legado

Gustav Klimt deixou a Secessão em 1905 após divergências internas, mas sua liderança inicial foi fundamental. O movimento abriu caminho para o modernismo vienense e influenciou profundamente o design, a arquitetura e a arte europeia.

🎨 Obras icônicas de Klimt no período da Secessão

1. O Friso de Beethoven (1902)

Uma das obras mais emblemáticas da Secessão.
Criado para a 14ª Exposição da Secessão, dedicada a Beethoven, o friso é um mural monumental que interpreta musical e simbolicamente a Nona Sinfonia.
Características:

  • figuras alongadas e estilizadas
  • forte simbolismo
  • uso de materiais não convencionais (gesso, ouro, espelhos, massa colorida)
    Hoje é considerado uma síntese do ideal da obra de arte total.

2. Filosofia (1899–1907), Medicina (1900–1907) e Jurisprudência (1903–1907)

Conjunto de três grandes pinturas encomendadas para a Universidade de Viena.
Essas obras causaram enorme polêmica pela abordagem simbólica, sensual e pessimista dos temas — muito distante da tradição acadêmica.

  • Filosofia: seres flutuantes, alegoria da existência humana.
  • Medicina: figura feminina dominada pela serpente da vida e da morte.
  • Jurisprudência: divindades e alegorias sombrias que representam o destino humano.

Foram amplamente criticadas e recusadas pela universidade. Infelizmente, os originais foram destruídos em 1945.


3. Judith I (1901)

Obra símbolo do erotismo refinado de Klimt.
Mostra Judith com expressão ambígua, sensual e poderosa, em estilo altamente decorativo.
O uso do ouro e o fundo ornamental a conectam diretamente ao vocabulário estético da Secessão.


4. Retrato de Serena Lederer (1899)

Um dos primeiros retratos femininos alinhados ao estilo que Klimt desenvolveria na Secessão: fundo plano, ornamentos estilizados e forte presença psicológica do modelo.


5. Nuda Veritas (1899)

A tela apresenta uma figura feminina nua segurando um espelho — um manifesto da verdade artística.
A inscrição no quadro cita Schiller: “Se não podes agradar a todos com tuas ações e tua arte, agrada a poucos.”
Tornou-se um símbolo do programa artístico da Secessão.


A Historia secreta de Klimt e Emilie

Retrato de Emilie Flöge (1902)

Pintura altamente ornamental, que traduz a busca da Secessão pela fusão entre moda, design e arte.
Flöge, companheira e colaboradora de Klimt, usava vestidos desenhados dentro do espírito do movimento.

O retrato abaixo foi pintado quando Flöge tinha 28 anos. O vestido de Emilie é um típico 
Reformkleider , a vestimenta artística e fluida que oferecia uma alternativa radical às restrições e espartilhos da moda convencional da época. 

Emilie Flöge era membro dos círculos boêmios e  fin-de-siècle vienenses . Era uma empresária de sucesso. Junto com sua irmã, administrava um salão de alta costura chamado Schwestern Flöge (Irmãs Flöge). Fora do seu salão de alta costura, Emilie tinha um gosto mais rebelde para a moda, que a sociedade convencional não entendia e nem conseguia compreender na época.

Em 1891, Helene, irmã mais velha de Emilie, casou-se com Ernst Klimt, irmão de Gustav Klimt. Quando Ernst faleceu em dezembro de 1892, Gustav tornou-se o tutor de Helene. Naquela época, Emilie tinha 18 anos e Gustav passou a visitar frequentemente a casa de seus pais, passando os verões com a família Flöge no Lago Attersee.

Após 1891, Klimt retratou Emilie em muitas de suas obras. Alguns historiadores da arte chegam a acreditar que sua famosa obra 
O Beijo (1907-08) mostra o artista e Flöge como amantes.

Ao que tudo indica, a relação entre Gustav Klimt e Emilie Flöge pode ter começado como uma paixão passageira, mas amadureceu para um relacionamento estreito, intelectual e emocionalmente íntimo, e não apenas físico.

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